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sábado, 6 de setembro de 2014

Intolerância


O futebol brasileiro está em queda livre em um precipício e isso nada mais é do que reflexo da própria sociedade brasileira. Li agora a coluna do Vitor Guedes na seçaõ de esportes do jornal Agora, como tenho o costume de fazer, por achar que ele fala com muita clareza sobre os mais variados assuntos ligados ao esporte e mais uma vez concordei com sua opinião que ratifica um pensamento que eu vinha tendo desde o caso do xingamento desferido pela torcedora do Grêmio ao goleiro Aranha, porém acredito que vou ainda um pouco mais além no assunto.
Em primeiro lugar não consigo acreditar na intolerância a intolerância. A garota foi praticamente execrada publicamente, sua vida vai ficar pra sempre marcada por esse erro, sua imagem foi veiculada das mais diversificadas formas, teve a casa apedrejada, foi ameaçada de morte, teve que excluir redes sociais e pagará por isso mais do que judicialmente, moralmente e psicologicamente por muito tempo em sua vida. Não estou defendendo aqui o ato dela, muito pelo contrário, apenas não concordo em marginalizar alguém que quis marginalizar o outro. É querer consertar um erro repetindo o erro, como alguns que vi por aí até pedindo a exclusão do Rio Grande do Sul do país. Pode?
Durante algum tempo, na minha infância, tive alguns amiguinhos que por conta de eu ser alto e magro, desde criança, me chamavam de girafa. Nunca me importei muito com isso, porque na verdade eu via desde aquela época que aquilo era uma tentativa de me diminuir, era a única arma que eles tinham, tendo em vista que eu tirava melhores notas, sempre era escolhido como monitor de sala, então, via que a última e desesperada tentativa de me diminuir de alguma forma e me afetar era me comparando com aquele animal, que pra mim representa uma das maiores evoluções da natureza, aquele que foi além dos outros para conseguir alimento, no mais alto das árvores, sem ter que escalá-las. Eu derrubava isso não com a mesma arma, xingando de volta, mas pelo contrário, trazendo aquela pessoa pro meu lado, demonstrando que eu não era de outro planeta. E então, acabava desmontando a pessoa, acabava amigo de todos.
Acho essa coisa de bulling, uma bobagem sem fim. Na minha época de escola, eu sempre acreditei que isso era na verdade um grande aprendizado pelo qual todos nós passavamos. Sempre de alguma forma todos éramos chacotados por algum motivo, é natural da criança fazer brincadeiras com o outro, descobrir o diferente e rir a respeito. Não acredito que devemos coibir com força esse comportamento, tão repressor quanto o bulling, mas incentivar na criança que está sofrendo isso, uma resposta positiva. Que ela cresça ainda mais que os outros e quando se torne um adulto, seja alguém preparado pra enfrentar qualquer crítica, e não acostumado a ser protegido. 
Eu acreito que quando uma pessoa negra se mostra tão ofendida ao ser chamada de macaco, apenas dá força ao xingamento, como em qualquer outro caso, transforma um evento isolado, num evento maior. Dá crédito a ofensa! O comportamento do Daniel Alves um tempo atrás de comer a banana que lhe foi arremessada é um exemplo de como demonstrar grandeza quanto ao preconceituoso e acredito que a multa imposta ao time pertencente ao torcedor e sua exclusão dos estádios tenha sido de bom tamanho.
Mas por que não fazemos isso com aquele que grita viado? E aquele que grita filho da puta? Ladrão? Assumimos então que chamar a mãe do juiz de puta é mais leve e normal do que chamar um jogador de macaco? E então devemos proibir todos os xingamentos em estádios? Prender todos que de alguma forma ofenderem um jogador e o desestabilizarem? Por fim desclassificar um time da competição por isso também?
Nesse ponto onde eu queria chegar, acho o maior absurdo dentre tantos já cometidos por esse tal de STJD, pela CBF e cia. Responsabilizar um clube, retirando-o do campeonato, pelo xingamento racista de um torcedor isolado. Fato esse que só deu crédito ao acontecimento e aumentou ainda mais a torcida intolerante em resposta a essa violência, quase que criando uma verdadeira guerra, criando um sentimento de revolta nos outros torcedores. Isso pra mim é como, voltando a época de escola, um professor levar uma cusparada de um aluno, a diretora vir, culpar a classe inteira e suspender todos os alunos por serem coniventes com a atitude.
Daqui a pouco estou vendo corinthiano fanático virando sócio da torcida do palmeiras, comprando camisa e indo em jogo decisivo chamar algum jogador de "preto" (acho que "Argentino viado, volta pro seu país, que é seu lugar" não é considerado no estádio um tipo de xenofobia, nem homofobia) pra desclassificar o time adversário, vai virar moda!
Mas o que falar de um lugar onde o futebol já teve tantas viradas de mesa e decisões no campo revertidas por engravatados? Se nem as leis nesse lugar conseguem fazer sentido na maioria das vezes, a gente quer algo do futebol, que nem tem um poder democrático? A CBF nada mais é do que uma empresa visando o seu lucro. E o esporte cada vez mais perde expectadores por aqui,
Só posso dizer que parece que estamos ficando tão "protetores" dos oprimidos, que acabamos nos tornando também um deles e esquecendo dos verdadeiros opressores donos do dinheiro e da manipulação de opinião em favor de seus interesses financeiros.
Como observação, fiz universidade pública podendo participar de programa de cotas, mas não optei por utilizá-lo. Acredito que eu me colocar como diferente só da ainda mais força praquele que já tem preconceito me achando diferente.

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