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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sobre o Tema de Redação do ENEM 2014: Publicidade Infantil


Vamos fazer um exercício e tratar seriamente sobre o assunto?


(O) Cuidado com as crianças.(!)

Tida por muitos como um quarto poder (além do legislativo, executivo e judiciário instituídos no Brasil) a mídia tem sido tema de debates na sociedade e a forma como ela deve ou pode atuar em relação a publicidade é algo importante para ser avaliado a curto e longo prazos.
Mas é necessário tentar entender sempre em quais casos a mídia controla seu público e em qual medida o público controla a mídia. Recentemente no Brasil foi aprovada uma resolução proibindo determinados tipos de campanhas direcionadas às crianças por serem consideradas abusivas e esse é um ótimo exemplo para ser avaliado nesse sentido. Tal resolução segue uma tendência do mercado publicitário de diminuir o espaço destinado aos produtos infantis, o que esteve diretamente ligado a queda dos programas destinados a esse público na maioria dos canais abertos. Por décadas as manhãs dos principais canais brasileiros era ocupada pelos programas de palco e pelos desenhos animados.
Cabe avaliar aqui a ordem dos acontecimentos e o que levou o país a tomar tal medida regulatória. Fazendo uma comparação rápida entre os principais produtos comprados para presentear crianças nos dias das crianças de 2014 com os adquiridos na mesma data comemorativa de 20 anos atrás, rapidamente percebemos que as lojas de produtos de tecnologia como celulares, tablets, computadores teve um volume de vendas muito maior do que propriamente a loja de brinquedos (Que obtém também nos eletrônicos maior parte do seu faturamento). O mercado consumidor infantil mudou, assim como os gostos das crianças que passaram a procurar cada vez mais cedo conteúdos direcionados aos adultos. Essa mudança se iniciou no começo desse milênio e foi percebida diretamente nos índices de audiência fazendo com que as manhãs televisivas passassem a trazer conteúdo "familiar". Em um efeito dominó, o mercado publicitário do setor que já sentia os duros golpes dessa mudança na sociedade (Muitas empresas de brinquedos foram vendidas, negociadas e reformuladas, trazendo muito mais conteúdo eletrônico), dentro do esperado nas regras do capitalismo (e da natureza), usaram todos os recursos para sobreviverem, agora sem os programas infantis, os seus pulmões que as mantinha vivas, apelaram pras estratégias agressivas de marketing, até o ponto delas precisarem ser reguladas.
A pergunta agora é: Os próprios veículos de comunicação são os culpados pela precocidade das nossas crianças e são eles os responsáveis pela mudança na sociedade que culminou no fim da grade infantil ou a sociedade mudou por conta própria, sem essa influência?
Se a resposta é a primeira alternativa significa que temos que tomar muito cuidado pois algumas consequências das decisões dos grandes veículos de mídia são imprevisíveis quando se trata de mudança de comportamento da sociedade. Que adultos serão no futuro as crianças de hoje que chegarão na adolescência sem ter tido nenhum contato direcionado tanto de programação quanto de publicidade? Perderão essas crianças o contato com o desejo de consumo incentivado pela propaganda e contido pela situação financeira dos pais? Buscarão elas essa informação não encontrada na televisão em outros veículos como a internet e encontrarão mais informação do que aquela que poderia ser veículada na televisão e foi proibida? Será que não protegemos demais as crianças de hoje em dia de informações, fazendo-as buscar ainda mais por essas informações, pois estão muito mais fáceis de serem conseguidas? Ou será que realmente o passado é que formou os adultos de hoje de forma equivocada com direito a propaganda de cigarro de chocolate e piadas que nunca diríamos serem preconceituosas nos Trapalhões, inconsebíveis hoje em dia?
Respostas que só teremos no futuro, mas temos que ter consciência hoje que alguém está tomando essas decisões de formação na construção das novas sociedades do futuro, uma sociedade que parece intolerante a intolerâncias, que censura e controla  o que não mais se consegue censurar e controlar e que protegendo e preparando transforma crianças em adultos completamnete despreparados.
O problema é que, mais do que no conteúdo, a informação deveria ser entendida pela forma. Nossa sociedade aprendeu a corromper todas as palavras, julgar de forma maliciosa e tudo se tornou criminoso. Ao mesmo tempo que proibimos algo abrimos espaço para outra coisa talvez ainda mais prejudicial.

Eder Beraldo Junior

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