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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Bons tempos aqueles

A memória assim como toda nossa concepção saudosista de passado é algo incrivelmente intrigante de se analisar. Por que sempre nos lembramos de nossa infância e adolescência como os melhores tempos de nossas vidas?

Um amigo dessa época de minha vida abordou o tema e eu me questionei a respeito. Realmente eu sinto muita saudade daquele tempo e comecei a perceber que não sou o único.

O que fazia daquela época tão especial para guardarmos com tanto carinho na memória e considerarmos que nunca mais viveremos algo igual?

Refletindo, a primeira coisa que surgiu na mente foi a ausência de responsabilidades, a possibilidade de não se preocupar de verdade com nada. Por mais que alguém teve desde muito cedo que ajudar a família tanto em questões financeiras quanto emocionais, os jovens sempre estão protegidos por uma pureza invisível. Nessa época nós valorizamos nossos amigos, detestamos com vontade aqueles de quem não gostamos, amamos, somos amados, esquecemos de tudo, começamos de novo, choramos, rimos, aprendemos, erramos, caímos, levantamos sem maiores arranhões, sentimos que o mundo todo é nosso e que podemos qualquer coisa. Claro que vivemos questionando que não chegava logo a idade de dirigir, a independência de não ter hora pra voltar, a ausência dos pais reclamando de tudo. Quando chega essa idade da maioridade, percebemos que pra o sonho de dirigir tem vários mini pesadelos chamados de carnê da prestação do financiamento, IPVA, licenciamento, seguro obrigatório, seguro contra roubo, combustível, não correr acima das velocidades mais absurdas impostas na lei, usar o cinto de segurança, não sair no dia do rodízio, não beber, não parar em lugar proibido mesmo sendo o único disponível... Para o paraíso da independência de não ter hora pra voltar vivemos o inferno do aluguel ou da prestação da casa em 30 anos, o desespero de ter que acordar com o despertador logo na primeira vez que ele tocar, a penitência da necessidade de trabalhar para se manter, a ausência de alguém cuidando de você, se preocupando com você, sendo responsável por seus atos... A ausência desses pais reclamando de tudo se torna uma saudade infindável daqueles que sempre te amaram, amam e amarão de verdade.

Bons tempos aqueles em que tudo era vivido com intensidade, onde a gente conseguia sentir e demonstrar os sentimentos sem se preocupar com o que iriam dizer, com o que iriam pensar. Tempo em que a gente ainda se chocava com as coisas, se indignava, que tinha esperança, que achava que o mundo tinha conserto.

Só que esse tempo passa rápido como um piscar de olhos e pouca coisa fica, pra uns menos, pra outros mais. Mas pra todos o que fica é a memória de que aquilo foi bom e a vontade de acreditar que pode existir de novo, seja pelas mãos divinas de um filho, seja pelo desejo louco de juventude eterna.

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